sexta-feira, 4 de junho de 2010

TEXTO RETIRADO DO BLOGUE ESPECIALID

Estratégias para lidar com a oposição

Crianças com TDA/H frequentemente apresentam um outro problema que se soma às características centrais do transtorno (os sinais de desatenção, de hiperactividade e de impulsividade). Referimo-nos ao comportamento de reiterada oposição, teimosia, não obediência às figuras de autoridades, negativismo, provocação, e que por vezes chega às raias da conduta desafiante. Esse padrão de comportamento tem sido designado Transtorno de Oposição e Desafio, e essa terminologia já diz quase tudo sobre esse problema.

Ninguém pode duvidar que lidar com esse comportamento de oposição constitui um dos maiores desafios para pais e educadores. As batalhas que fatalmente se seguem a esses momentos não parecem trazer melhoras para nenhuma das partes e só servem para aumentar o clima desarmónico da relação.

Com frequência, impõe-se um acompanhamento psicológico para ajudar a criança a lidar com seus os sentimentos de frustração, ressentimento, e a encontrar canais mais saudáveis de escoamento dos seus sentimentos de hostilidade, como também para ajudar os pais e educadores a passarem por essa difícil e desgastante tarefa.

Todavia, cabe lembrar que um determinado número (não a maioria) de crianças com comportamento de oposição evolui para mostrar, em idade maior, alterações mais sérias do comportamento que configuram um Transtorno de Conduta.

Russell Barkley, na última Chadd Conference, realizada em outubro de 2002 em Miami, abordou e emitiu a sua abalizada opinião sobre esse problema. Na sua visão, o comportamento de oposição é causado pelo TDA/H da criança, uma vez que na base desse transtorno estaria a dificuldade da criança modular os seus sentimentos de raiva. Sabe-se que a deficiência na regulação dos afectos e sentimentos é um dos déficits (executivos) básicos do TDA/H. Por outro lado, acredita esse autor, as mães das crianças que apresentam esse comportamento de oposição, elas próprias também são portadoras do TDA/H e por essa razão elas não conseguem exercer adequadamente a função de moduladoras dos afectos dos filhos. Em outros termos, elas não conseguem exercer as funções executivas que falta aos seus filhos, porque também falta para elas mesmas.

Consequentemente, o ideal é que essas mães, paralelamente ao acompanhamento dos seus filhos, elas abordassem seu próprio TDA/H, e nessa empreitada vale lembrar que o momento mais importante é o conhecimento e a “apropriação” do transtorno. Conhecimento, informação e saber como o transtorno está a comprometer as suas relações já é tratamento.

Ao mesmo tempo, o conhecimento de certas estratégias comportamentais pode ajudar muitos pais e educadores a corrigirem hábitos que longe de serem efectivos, vêm contribuindo para aumentar a tensão.

Mencionam-se, a seguir, aquelas ordens que não devem ser dadas porque estimulam a desobediência:

1) Ordens à distância
Falar de uma divisão da casa diferente de onde está a criança habitualmente desatenta em nada vai cooperar para que ela se ligue no que se espera dela.

2) Ordens complexas
Se a criança já tem dificuldade em fixar na memória de curto prazo as actividades a fazer, a solicitação de várias tarefas seguidas só servirá para tornar a sua realização menos provável.

3) Ordens acompanhadas de muitas explicações
Muitos pais, preocupados em não soarem autoritários para seus filhos, estendem-se em argumentações sobre as necessidades das ordens que estão fazendo. Como a criança com TDA/H apresenta um déficit da sustentação da atenção, ou dito de outra forma, a sua atenção tem curta duração, é bastante provável que no final da explanação do pai ela já não se lembre da maior parte do que foi dito.

4) Ordens vagas
Pedir à criança que se comporte “como um bom menino” ao sair para uma festinha na casa de amigos não deixa muito claro o que se espera e o que não se espera que ele faça.

5) Ordens sob a forma de pergunta
Se um pai fala para o seu filho “Tu podes ir tomar banho agora?”, evidentemente ele está a deixar margem a que seu filho diga não.

6) Ordens em tom de ameaça ou com irritação
Já antevendo a batalha que vai ser formada após uma solicitação, muitas vezes os pais já saem no ataque e ordenam como se a recusa já tivesse sido feita. Isso predispõe a criança a reagir no mesmo tom, uma vez que o clima de animosidade já está instalado.

7) Ordens com antecedência
Avisar a uma criança que quando terminar o programa de TV daqui a uma hora ela vai ter de tomar banho e lavar bem a cabeça só serve para interromper o prazer que ela está tendo ao assistir o seu programa predilecto.

8) Ordens repetidas
Mandar uma criança fazer algo, permitir que ela recuse, esperar algum tempo e retornar com o mesmo pedido para ela recusar de novo é a melhor maneira de treinar a desobediência.

Então, se já sabemos tudo que devemos evitar, passemos a ver como devemos nos dirigir às nossas crianças quando desejamos que ela realize determinada tarefa. Segundo Barkley, os pais e educadores devem falar de perto, com voz firme, sem deixar de serem amorosos, usando o verbo na forma imperativa. De preferência olhando nos olhos da criança, e se houver resistência fazendo uma ajuda com uma discreta pressão física. E, jamais devem atrasar ou desistir de uma ordem uma vez proferida.

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